"game over"


O computador é só uma ferramenta de trabalho.

Dizia eu!!

Durante muitos anos foi a minha, numa profissão em que inicialmente eram lápis e pincéis.
Só há poucos, depois de iniciar outra actividade onde a importância dessa é muito menor, percebi a imensidão de alternativas ao meu dispôr, numa perspectiva lúdica, que a associação com a internet torna infinita.

Vadiava neste mundo virtual, descoberta recente por isso mais estimulante. quando um comentário num blogue, que não lembro o nome, me sugou a atenção.
A descricção e os elogios ao "game" despertaram a curiosidade inexistente até á data por tais actividades.

Inevitávelmente cliquei no link.
Os comentários eram justos, é realmente fascinante, mais, enigmático.

Não se trata de uma actividade em que o nosso oponente é um software que, por mais elaborado e refinado, não passa disso, como tal limitado.
O que o torna especial é o envolvimento dos outros jogadores em simultâneo, influências paralelas que constantemente afectam a evolução do "game".

Hoje, com alguma distância da permanência diária e ansiada, percebo o quanto um simples "game", que imagino não ser concerteza o único no género, pode influenciar os meus dias.
Principalmente as noites...

revolução


O relógio de pé, com anos para não se aguentar já em pé, marcava onze horas!
Entrei, pé ante pé, na sala e sentei-me na cadeira que tinha abandonado há minutos.
Os amigos mais próximos e outros que só por vezes ali se sentavam esperavam, enquanto discutiam e tentavam adivinhar o que diria, aquela voz que os esclareceriam.
Era estranho perceber a ansiedade no olhar que dirigiam áquele aparelho sem imagem.
Mais estranho era estar ainda ali sentado, como se fosse transparente.
O diálogo entre os adultos seguia indiferente á minha presença.
Apesar ter já ouvido uma ou outra expressão que faria os olhares dirigirem-se para mim como se eu as tivesse utilizado e consequentemente a ordem de dormir soasse.

Mas não, eu não estava ali!

Algo de importante estava a acontecer, não sabia o quê, mas isso era evidente.
Da rádio soava uma música repetida, mas palavras fiáveis vinham da "BBC". Era para ali que a atenção estava dirigida, de onde viriam, supostamente, esclarecimentos sobre o que se passava em Lisboa.

Revolução!!
E afinal era uma revolução.

Não fazia ideia do que significava aquela palavra naquele contexto.
Mas era só uma revolução!
E ali estava eu, na dúvida se seria coisa boa ou não!
Os adultos, normalmente, fáceis de interpretar estavam hoje complicados.
As expressões flutuavam entre a euforia e extrema apreensão.
Não era suposto agirem daquele modo!
Estavam literalmente descontrolados, educados, mas objectivamente diferentes.

E eu ainda estava ali !!

Andavam tropas nas ruas de Lisboa e gente a apregoar liberdade.

Uma confusão!!

Já a rádio emudecida, comentários repetidos, esgotadas as possibilidades de adivinhação e conformados com a ideia de só no dia seguinte ser possível saber o que se passava efectivamente neste país, voltaram a agir como adultos...

E a transparência acabou.

Deitado, sem conseguir dormir, questionava-me como era possível os meus irmãos dormirem profundamente.
Queria que o dia nascesse, chegar ao liceu e então entender o que realmente se passava, óbviamente, dos adultos não poderia esperar grandes esclarecimentos.

Senti os passos que se aproximavam silenciosamente...
Aconchegou-me os lençois como se fosse uma noite de Inverno e disse:
- Amanhã não há aulas.
E eu pensei quase alto:

- Merda de revolução!!


Depois?
Depois foi a revolução.
Feita de histórias inacreditáveis!
Mas não me refiro a esta que festejam hoje...

A minha.

email de amor


Mais uma semana...

Nesta algo especial aconteceu, pôs-me um sorriso doce na cara e uma lágrima no canto do olho sem me aperceber que está a chegar e enquanto escorre, obriga o sorriso a abrir, contagiando inevitávelmente quem está.
Uma emoção partilhada, forte e de uma beleza simples, elegante.

Feliz.

Foi só hoje e já a horas indecentes que o recuperei, traumatizado pela permanência prolongada em espaço indiscritível e na companhia de estranhos objectos cuja utilidade não conseguiu concerteza vislumbrar.
Quando finalmente sentiu o calor da mão que sempre o tem amparado, piscava incessantemente a sua já débil luz e tremia assustadoramente, ainda que num ritmo compassado, em evidente desespero enviava constantes mensagens de pedidos de ajuda, sabia que a sua energia estava a acabar.
Desfaleceu!
Só depois de o compensar com alguns mimos me atrevi pressionar outra vez aquelas pobres teclas doridas ver a tua chamada perdida e a mensagem.

O sorriso doce voltou, a lágrima ameaçou...
Obrigado minha querida.

Então, liguei-te.
Estavas desligada!
O telefone. Claro...

pequeno almoço


Ela acordou, perguntou as horas, o que fazia eu e se podiamos, apesar da hora ser quase de jantar, comer torradas e beber café, na cama... Claro!
Saiu da cama, meia perna velada por uma meia esquecida...
Sem perguntas, observou os quadros nas paredes, as fotos, os livros, parou no meu colo e perguntou:
- Quem é o Zé Manel?
- Sou eu...
- Posso?

Enquanto percorria com as mãos aquele corpo nú sentado em mim, pressentia as perguntas que aí vinham...
Não vieram.
Com um sorriso, que me fez voltar ao espaço onde a encontrei, sensual, doce, frontal, confessou a surpresa.
Quis saber se escreveria sobre nós.
- Sim.
- Precisas de uma foto?
- Claro!

Não houve pressas de partir.
Comboios a apanhar.




esqueci



Não é fácil.
Quando o coração nos diz por ali
e sem margem para qualquer dúvida
a cabeça nos diz nunca por aí!
Por qualquer motivo,
que não quero agora analizar,
é o coração que sempre manda em mim...
Queria eu que a cabeça impedisse
que o coração dôa tanto.


Soube da tua dôr.
Esqueci a minha e corri para aliviar a tua.
Esqueci, só, que não sei como...

amanhã


Hoje vou encher a alma de sorrisos e abraços
vou apreciar o cheiro de Primavera que ainda agora senti
vou deixar-me sentir a verdade que me habituei esconder
esquecer a mentira dos momentos

Hoje vou fazer a mala
sem esquecer os meus sorrisos e a vontade de os dar
antecipar e ampliar o fim de semana
virar as costas a Lisboa e quase sem destino
abraçar o espaço que me separa de chegar

Amanhã, é quase sempre tarde de mais...

breve


Vi o teu nome iluminado no pequeno ecrân e sorri.
Ouvi a tua voz hoje como se ainda agora tivesse falado contigo.
Esqueci os dias ou meses que passaram.
O tom que reconheci sentou-me confortável no sofá:
- Olá como estás?
- Bem...!
Deliciado ouvi-te narrar história atrás de história.
Em meia hora soube o que não vi da vida de quem sabes que estimo e longe porque de ti...
Interrompi.
Quis saber como estás e em resposta soube do teu trabalho.
Insisti querer saber de ti.
Outras histórias ouvi.
- Adeus, falamos noutra altura.
Gostei.
Há muito não ouvia a tua voz!
Minutos depois o teu nome brilhou outra vez, comigo.
Fiquei ali ao teu lado.
Matei saudades e por momentos quase te toquei, senti... sorri.

Liguei.


Espero ouvir-te breve.
Falar contigo, ver-te...

sem ver, sem ouvir


Neste tempo que não queria meu
Nosso, sem ter, mas ser
Continuo a crescer
Ciente que contigo seria mais doce
Mas daí não vir acréscimo
Ao que cresce hoje vindo do tempo
Duma doçura que não se repete.

Queiras ou não comigo
Não pára de crescer
Quando te ouço sem te ouvir
Procuras em mim
O que em ti sempre vi
E na dôr repetida
Procuras
Sem ver, sem ouvir

memórias


As imagens que as tuas me trouxeram, vieram de longe, pensava já perdidas naquela praia ainda hoje mágica.
Os dias não se mediam e o tempo, naquele tempo, pareceu parar.
O amor era ligeiro e os corpos já se misturam, iluminados pela lua brilhante por vezes de luz velada pelo calor do dia, das velas insinuantes, inconstantes, que as formas enfeitiçavam e agora voltam...

o teu nome


Vou gritar o teu nome...
vou gritar o meu nome...

Publicar um post com a foto de um beijo apaixonado, nosso, e em legenda dizer á quanto tempo espero pelo próximo.
Explicar-te que daqui não á distância e apesar da real, estás sempre perto.
Continuo sem saber se durmo contigo ou comigo... posso garantir-te que me deito e acordo, desde aquele beijo.
Quantas vezes tentei expulsar-te e negar o espaço que ocupas dentro de mim. Não sei...
Doía tanto a tua ausência e por breves momentos iludi-me que o espaço estava livre.
Episódios inesquecíveis, outros que queria esquecer, ainda assim o que sinto por ti nunca morreu, cresceu, transformou-se num sentimento adulto, maturo, do qual me orgulho e sei ser priviligiado por sentir.
Que faço eu deste amor?
Parei de resistir, aceitei que faz parte de mim e a dôr deu espaço a uma sensação de paz.
Não desapareceram as saudades nem a falta que me fazes, Amiga...
E agora? Não sei.
Não quero correr e tropeçar no tempo que cada um têm.
Sei que sou difícil de aturar, que a minha vida não inspira segurança e estabilidade e quem a procura fora de si foge de mim.

Tu sabes melhor que ninguém... 
O bom e o mau dentro de mim.

na estrada


não quero escrever estas palavras
fechar esta janela de mundos
por onde não chego ao teu

com aquela música na estrada
ver os traços brancos
e os nomes do caminho
ficar para trás
apagar a distância

levar uma flor
um abraço um sorriso
amigo
rever o teu olhar
que preciso
amigo

e ao chegar
entrar não pensar
ou querer
sei

o que agora te falta
não tenho para levar

Há dias


Antecipei o despertar e a sorrir evitei que aquele som fosse o primeiro, abri as janelas e o dia entrou a condizer.
Soubesse o que faz esta sensação acordar comigo, de onde vem, e seria assim todos os dias.

Da porta do "café da esquina" descobri uma palmeira viçosa de um verde intenso a brilhar ao sol.

O sorriso fresco que atirou "bons dias" fez-me voltar a casa e senti o amor no olhar, entre o chá e as torradas, do casal de cabelo grisalho ali sentado...

Indiferente á espera imposta pela interminável fila onde estava parado, procurava na rádio aquela música...

Agredido por um som estridente inesperado proveniente do carro que me precedia, aceitei pelo espelho retrovisor, feitas de gestos expressivos e embaraçados, as desculpas que me eram dirigidas.
Instintivamente, instantes depois voltei a espreitar e nos beijos que vi soube ser a paixão responsável pela emissão de tal som...

E na rádio tocava "in a heartbeat".

O amor encheu o dia.
Esbarrei nele constantemente!
Descaradamente vísivel.

sentir|só


Esta ausência evidente que nunca imaginei não ser constante e omnipresente.
A vontade do prazer do sexo desapareceu, se lenta e gradualmente não sei. 
Apesar das ocasiões propícias a tal serem frequentes, há muito que não acontece um envolvimento físico, digo, relações sexuais, sexo, foder, quecas ...
Ainda que não seja indiferente á beleza, aos jogos de sedução que massagam o ego e me estímulam a curiosidade, não é suficiente.
É a prática generalizada, justificada pela suposta necessidade de um equilíbrio emocional e social indispensável, a leveza com que se encara e aceita uma relação física, com total ausência da intelectual da emocional e espiritual, que agora me provoca a sensação responsável pela incapacidade de me envolver em tais prácticas.
Surpreende-me a flutuação radical, leviana, dos amores e desamores em contraste com a indisponibilidade a insegurança e o medo com que se pretende e acredita ser possível estabelecer relações.
Não existindo como base uma comunicação séria consciente e honesta parece-me fútil, efémero, pequenino.

Fico a pensar e já não quero pensar e perceber...
Faz-me falta sentir, preciso sentir, só...

Também

linhas cruzadas


Quando cruzo a razão e a emoção fico incapacitado de comunicar com clareza e permitem as minhas palavras interpretações distintas que questionam as minhas intenções.

As consequências são evidentes e sempre dolorosas.

Foi contigo, com a tua ajuda, que tive consciência da urgência em eliminar a possibilidade da dúvida no meu discurso.

E é contigo que não falo há meses.

da mentira


Tenho alguma experiência da sua utilização e conhecimento das consequências mais comuns e evidentes.
Não me refiro á mentira grande e elaborada, fácilmente identificada, mas á pequena e aparentemente insignificante que somada a outras iguais de suporte têm a capacidade de transformar alguém em ninguém.
O processo de transformação adquirirá uma rapidez proporcional á inteligência do... mentiroso.
É possível inverter este processo*.
Uma vez finalizada a fase inicial de aquisição das técnicas necessárias á real evolução dessa inversão, dá-se então início á segunda fase que terminará, mas nunca com garantia de total de sucesso, na data correspondente ao falecimento do aspirante a... honesto. 


* Pareceu-me ouvir alguns súspiros** de alívio provávelmente provenientes dos amantes da irresistivel utilização da vulgar e sobejamente conhecida e aceite "mentirinha" que embeleza e transforma uma cena banal numa história digna de publicação em espaços dignos e sérios como os ditos blog's.

** oh não!!?? Afinal era só o meu.

das nuvens


Os olhos pediam que deixasse de percorrer as massas brancas, imensas e brilhantes de uma beleza hipnotizante, cujas formas obedeciam sem questionar aos caprichos da minha imaginação.
Sabia-os esgotados, todo o meu corpo me pedia descanso, negava-lhe essa hipótese e permitia que aquelas horas circulassem livremente em mim iluminadas pelo reflexo que entrava pela janela redonda por onde olhava há quase uma hora...
E sorria.
Não gosto de programas com datas marcadas, irrita-me a espera e, pior, a desilusão das expectativas inevitáveis.
São as decisões espontâneas em situações inesperadas que se transformam em momentos inesquecíveis.
Era só um jantar, mas voar para lá chegar, despertou o espiríto de aventura e apesar de conhecer a cidade a casa, a sensação era de férias sem destino e como sempre desejei, sem malas...
As horas no aeroporto no comboio e no metro pareceram minutos, promissores.
Ainda não tinha vislumbrado o parque que ía atravessar e já o sorriso se instalara.
Chegava a outro mundo no qual sentia ter espaço e onde só estivera uma vez.
Com o sol frio a esconder-se e as sombras a animar o verde onde eu parecia flutuar, avistei aquelas janelas por onde já tinha admirado o espaço que me faltava percorrer para chegar.
O sorriso franco e generoso com que fui recebido, espantou a sensação desagradável que se atreveu aparecer enquanto o elevador subia.
Não voltou...
Foi a conversa interessante, entre interessada e muito curiosa gente oriunda de outros mundos como eu que não sei se voltarei a ver mas para sempre ficarão comigo, que encheu aquelas horas que viu o dia nascer e as ocupou até ao último minuto.
Na inadiável despedida houve sorrisos ternos, generosos, outros já cúmplices e a promessa de outro jantar acompanhada de um brilho no olhar, sentido...

Da janela redonda, já via o tejo e o sol a esconder-se para os lados de Sintra...
Enquanto o avião roçava os telhados de Lisboa espreguiçei-me, feliz, por poder ainda, por vezes, ser espontâneo e aproveitar as oportunidades que vão passando e escolho não perder.

Sensação de liberdade !

E sorria