a ponte


Não há palavras que descrevam a emoção que o trespassou durante a travessia da ponte.
Da cidade, de que agora seria, não havia perspectiva mais impressionante.
Comparada com a que deixava para trás, onde todas as esquinas tinham uma história em que também era personagem entre outros que faziam a sua, aquela era o mundo.
Estranhava, surpreendido por tanta luz e os espaços, hoje imensos, onde ela parecia não chegar.
Era desses que não conseguia desviar o olhar e só os esqueceu quando a paisagem deixou de ser e o obrigou a ser também cidade.
Naqueles, onde a luz afinal chegava, encontrou o que lhe pareceu ser paz, as cidades de que a cidade era feita, gente que ali sempre esteve e outros que como ele ali vieram andar...
O tempo passou, de algumas esquinas já fazia parte e com um sorriso passeava só para as encontrar.
Num ápice, que a facilidade que sempre tivera em conhecer gente acelarou, trocou as esquinas por pessoas.
E com um sorriso passeava só para as encontrar.
E histórias para contar.
Entre esquinas e pessoas inventava episódios carentes de outros para que não parasse desprevenido naquela que evitava e onde inevitávelmente se iria encontrar.
Agora não queria parar.
Fingia ignorar a urgência num adiar camuflado de prazer...

Manhãs frias em dias quentes.

dinossauro


O esforço é real e consciente e apesar do tempo lá fora não ser tanto assim, aqui dentro parece uma eternidade.
O incentivo é ter paz, só paz.

Remexi, vasculhei a arca das fotos.
Procurava encontrar-me ali…

Encontrei uma expressão triste.
Que persiste.

genuíno


Perde-se o amor por confiança e por desconfiança, por exesso ou falta de ternura, por tudo e por nada.
Abandona-se o amor apregoando a fidelidade para consigo próprio, quase sempre a maneira mais confortável, cobarde, de se iludirem.
Poucos têm a capacidade para manter relações de amor.
Numa relação amorosa e para que seja verdadeira é imprescindivel a distinção entre si e o outro.
Identidades perfeitamente separadas.
Aqueles que amam genuínamente alimentam e respeitam essa individualidade única.

ainda cá


Se conseguisse ordenar as palavras com a nitidez da imagem presente enquanto li as tuas, percebias o desfocar das mesmas enquanto as lágrimas pesadas não escorreram e encontraram o sorriso terno, saudoso, sempre associado Áquele Ser Humano.
Não lembro a côr do céu...
Lembro tanto querer aquela respiração cessar que a dôr era única alternativa. Serena.
A alegria da partida embrulhada na tristeza de me sentir, pela primeira vez, só.
Aí, o meu não contrastou com o sim.
E nada transcendente ou belo e mágico aconteceu...

Ainda cá.
Dentro de mim.

só música


Apesar da certeza que o dia me roubara deixando a noite entrar tão cedo, os meus planos adiados e as expressões ali ao lado a gritar:
- aqui não quero estar !
Há horas que aquele sorriso se tinha instalado, como se adivinhasse um princípio ou o fim que há muito esperava...
Vinha eu numa velocidade estonteante, naquela fila a dez há hora, contagiando os que fazem parte e ao meu lado por momentos se sentaram usufruindo, hoje, a minha saborosa companhia.
Pouca distância percorrida, confirmada pelo desespero estampado nos parceiros de viagem, quando o teu sorriso apareceu e obrigou o meu desaparecer...
Há quem entre na minha vida e fique por uns tempos, enquanto cá estão, responsáveis por algo que acontece em mim, por vezes há muito partiram quando percebo e ainda que não voltem, guardo comigo o bom que ficou.
Outros esqueço como se nunca aqui tivessem vindo...
Tu, querida Amiga, és importante e estás para sempre, fazes falta aos meus dias e sentir-me em paz contigo é só o que quero.
Por isso liguei.
Aquela música fez-me companhia enquanto esperei a voz que não ouvi.
Por isso liguei outra vez e... só música.

Volto a ligar?

amor/sexo


Do amor
Ditamos sentenças
Do amor
Incontáveis descrições de experiências
Do amor
Sensações e maledicências

Do sexo ninguêm se lembra, não existe, não falamos
E afinal o que é que faz o mundo andar
O amor ou o sexo de que não falamos

*
Da sede não falamos
Mas bebemos
Da fome não falamos
Mas comemos
De respirar não falamos
Mas respiramos
Do sexo não falamos
Mas fazemos

Acredito no sexo
Pormenor de nós
De sussurros e gestos
De melodias e voz
De entrega e cumplicidade
De marcar eternidade
De arrepios e desejo
Da verdade de um beijo
De uma mentira guardada
De uma alma ancorada
De um abraço maior
E de ser por amor

* Ink

casa de partida


Há momentos de uma beleza inegável.
Meus...
De que servem se só meus?
Aquela seria multiplicada por uma infinidade se só um ser a visse também...

Este é, espero, um breve momento em que me sinto lá em baixo e como habitual só.
O espaço é belo. Por isso mais só.

Dias que passam devagar e que na rotina feita de pormenores pouco animadores criados por gente, aparentemente pobre, por falta de coragem de se mostrarem ricos, a que não me quero habituar e que por vezes vejo também eu imitar por preguiça ou desalento e saber compensar aqui...

Estranho mundo onde vivemos que não podemos ser, só.
Sendo nos olham como fracos, frágeis e vulneráveis...

Nos últimos meses, por vezes, senti crescer em mim algo que achava perdido no tempo, a vontade de agir em conformidade com a atitude desprezível que enfrento nas pessoas dos meus dias e que agem sem respeito e consideração pelas pessoas com que vivemos.

Temos que viver!

Cresce o respeito por mim.
Apesar da tentação de vencer aquela luta, perco. 
Sinto merecer estar outra vez na casa de partida.

Só eu !

Onde andas Tu?

caixa de correio


A sua incorrecta utilização é responsável pela incapacidade de comunicação entre os Homens.
A falta de qualidade da cola utilizada nos sêlos também...

A insegurança e a incapacidade de confiar generalizada e aceite como moeda de troca entre relações, amorosas ou não, provoca o inevitável hambiente de desonestidade que preenche confortávelmente as ditas normais, chamadas assim porque em maioria e com a aprovação do senso comum.

*
Conclui-se que o mundo continuará a girar [melhor] se deixarmos de usar selos e protelarmos, confortavelmente, as ditas normas para quando nos relembramos que a comunicação impele à evolução.

Aprovado o senso do comum, está pronta a sociedade a rodar no que toca a relações, os parâmetros serão sempre flexíveis e condicionados pela relação voice-mail/sms/ voz.

Cola? Use apenas para objectos, não se generalize como lapa, seria uma inevitável desonestidade.

*Ink

Eu:6


Aceitei o repto colocado pela Ignota com um sorrisso que reflecte o prazer do desafio e por sentir fazer parte deste espaço onde ando há tão pouco e encontro Pessoas fantásticas que aos meus dias faltam.
Lembrei há muito ter feito o mesmo exercício e que á distância me pareceu fácil.
Agora não.
Inicialmente o número seis pareceu enorme e rápidamente infímo para tanto eu... desculpem a falta de modéstia.
Enfim... e para começar:

# Sou honesto
Quero ser. O esforço e a atenção é diário. Sublinho esforço.
Nasci honesto, mas lembro quando optei não ser. As justificações para tal decisão fariam verter algumas lágrimas de compaixão, aqui desnecessárias.
Importante é o dia em que constatei não saber já quem era e que para tal mudar era urgente ser honesto. Comigo!
Foi há muito, mas em termos de honestidade, sou ainda um aprendiz que fácilmente se engana.
Não acredito em relações, de qualquer tipo, não tendo por alícerce esse princípio básico.
Não é fácil ser honesto no mundo que vivemos, as consequências são evidentes em termos prácticos e emocionais, sou desagradável e tantas vezes inconveniente, mas a consciência que daí surge significa Paz.

# Sou preguiçoso
Não quero ser. O esforço e a atenção é diário. Sublinho esforço.
Ainda criança, percebi a facilidade com que executava as minhas obrigações e com resultados acima da média.
Com noção real da possibilidade de a mim próprio surpreender sempre optei pela preguiça.
Adio o que preciso fazer multliplicando o prazer do que gosto...
Por isso digo: na vida fiz já algumas coisas que os outros acham bem feitas e eu sei poder fazer melhor.
As duas que fiz bem, são mágicas e todos os dias me surpreendem.

# Sou amigo
Sou. Disponível sempre que necessário, altruísta muitas vezes.
Dispo a camisa, gasto os ultimos euros para os ver felizes.
Só muito tarde soube ser. Tenho poucos, mas tão amigos.
Espero deles frontalidade e que aceitem a minha sem a considerarem julgamento.
Sou ombro para chorar e incentivo para rir.
Que me aceitem como sou e tolerantes porque não como ainda quero ser. 
Todos os dias sinto uma dôr imensa, pois estúpidamente perdi O mais importante...

# Sou difícil
Não quero ser. E há tudo a fazer.
Persistente e por vezes teimoso por saber já não ter razão.
O que quero hoje amanhâ não. A conquista com sabor a derrota.
Mudo de direcção quando quero. Porque quero... apesar do que me dizem os que me querem bem e saber terem razão.
Tenho enormes dificuldades de comunicação. Ao exprimir o que penso e sinto os mal entendidos são frequentes...
Espero que me perdoem um dia.

# Sou Sonhador
Sou. E não há nada a fazer.
Por isso mudo de direcção quando quero.
Viveria sempre no mundo que sei ser possível mas nunca será...
E sofro. Mas continuo a acreditar que se quero é possivel.
Por vezes nos meus sonhos arrasto e faço sofrer quem mais gosta de mim.
Por não querer magoar ou ser magoado, agora, cheio de medo também, sózinho.

# Sou apaixonado
Sou. E não há nada a fazer.
Por tudo que faço e sinto. Porque só assim faço e sei viver.
E os momentos altos são inacessiveis a escaladores profissionais e nos baixos só estou eu...
Não prescindo de mim e quero viver um amor que me dizem impossivel e eu sei saber ser o único viável porque honesto e dos dias.
Gostar sem te querer mudar ou ter.

Concerteza virá.
Agora lento, maturo, sério como nunca e só ascendente.

Difícil


Observava minuciosamente os gestos da conversa.
Descobria cúmplicidades e o significado das palavras que ninguém disse, adivinhava, a distância razoávelmente segura, o abismo incontornável entre a sua e aquelas vidas ali narradas.
Às tentativas de anular aquela ausência surgia uma cortina negra, triste, abafava o brilho do olhar escuro em pele branca na sombra do cabelo preto.
Do desconforto, com a consciência tranquila pelas tentativas goradas de inclusão de ser tão distante, nada sobrou.
A conversa continuou...
Ao amor chegou...
As certezas e as frases feitas circulavam a velocidade cruzeiro, o tema instalado e aceite por unanimidade.
Formou-se uma fila ordenada dos que se queriam ouvir.
Não recordo as palavras que fizeram aquele rosto branco sair da sombra e interromper a ordem instaurada com estas que não esqueço:

Prefiro escolher sempre o difícil.
Estar só é difícil.
Quando quero muito vale a pena, se difícil.
Amar é bom, difícil. O amor por outro é uma expriência única, complexa, possivel se disposto a aprender e para tal imprescindível estar só. Crescer e vir a ser um mundo para quem amamos.
Não é fácil nem barato e os riscos muitos. A entrega é insuficiente e as respostas só se podem encontrar entre dois que não se querem ter, nem precisam.

Imagens


Mudança contínua, se imperceptível preguiçosamente perigosa ou vibrante e ruidosa, inequívoca, potencialmente esclarecedora, resultante da acumulação e interpretaçao de informação recolhida, se processada, na sucessão de vidas.
Algumas passaram sem lhes pressentir o acabar e o que cá dentro projectou só noutras identifiquei e construí.
Nesta, que agora se extingue, adivinhei o momento exacto que lhe iniciou o fim.
Vida a que o amanhã não quero adivinhar ou planear, atento á presente que começou e ainda a defunta se arrasta empurra e quer forçar a presença indesejada, ineficaz, desactualizada.
De cabelo grisalho e rugas marcadas que o tempo deixou, no olhar que promete ainda sonhar no sorriso honesto pelas lágrimas sentidas que me enchem o peito de força e coragem de ser, tão pouco saber e ainda querer, agora sem correr, pequenos e grandes prazeres viver, proibir o amanhã vir hoje iludir os sentidos nos dias grandes de Verão cheios e quentes de ternura em Janeiro, de chuva brilhante refrescante em Agosto que a Alma lava, escorre e mistura na terra tristezas passadas onde a alegria cresce e passeiam aqueles que não queremos nem podemos perder e nos berram as falhas mas nos tropeços amparam e aceitam.
Amigos.
Imagens de viagens onde personagens de cores pálidas de prazo expirado se misturam nas paisagens, rostos desfocados desenquadrados perdidos, paisagens desertas belas, tristes de côres fortes berrantes, frias, momentos que imagino importantes mas não sei, caras que pensei amigos sem saber ainda não ter, nem saber como ser.
Do tempo que agora acaba passam em parada personagens alinhados sorrisos branqueados em rosto defenido correcto, nomes perdidos, focados e enquadrados, idênticos.
Imagens inesquéciveis de poucos tão importantes gravadas para sempre, presentes e queridos.
Uma imagem composta por incontáveis imagens deambula com vontade própria.
Lembro a beleza evidente, comovente, de pormenores únicos só registados por mim.
Incapaz de parar, isolar ou focar uma só sem responsabilizar o tempo ou a distância.
Quão insignificantes todas as imagens são ao perceber a beleza infindável, intrigante e surpreendente do Mundo que por breves, unícos e inesquéciveis momentos se abriu para mim.


A menina dança?


Queria dançar contigo.
Pouco o fiz
Dança comigo agora
Como se hoje fosse a primeira dança
E p'ra ti corro, quase esqueço que é dançar
Tropeço em mim que tu és séria e longe e eu tão perto
Nunca de mais...
E da primeira dança que não foi sinto falta
Tu e eu erámos só
Dança então como quando só

Danças comigo?

As lágrimas secam por si!

Eu aqui...


Há sítios e pessoas onde não deviamos estar nunca.
Porque será tão grande a atracção inevitável que me faz lá estar?

Há muito sei ser uma ilha, que a rotina não supera tudo o que cá dentro acontece, ainda que passe fica.
Indelével.
Mesmo que o amor volte a perca desnecessária reflexo da incapacidade de comunicação fica sempre, cá dentro.
Ela está. Para o sempre...
Um som de piano, familiar desde há tanto voltou-me a ti.
Incrível a rapidez comparando a distância imposta, porque tem...
e tudo perde a simplicidade e deixa dúvidas a planar, contrariando o defenido há tanto e tão pouco.
Hoje sei estar outra vez onde não devia, amanhã que alguma parte pouco emocional decida e me empurre para longe daqui.
Porque o perigo espreita e sei possível sofrer outra vez.
Claro que não!

É só Amor que sinto.

Equilíbrio.


Durante dias aquele email aparecia para o café da manhã.
Surpreendido pela insistência de pessoas que fizeram parte de vidas passadas, quando o tempo parecia imenso e tudo evidente.
O futuro prisioneiro nas nossas mãos.
Como hoje. Sempre! 
Curioso e contagiado pela alegria do tom das mensagens, embarquei de alma e coração no projecto.
A festa organizada por e para personagens com idade para ter juízo e que claramente o quer, por momentos, perder.
Suscita-me o maior interesse. Claro!
- "Porque não o encontrei".
Dizem as más linguas...
Depois de infindáveis conversas telefónicas a propósito do evento e disposto a participar na organização das horas que o antecedem, várias combinações falhadas, algumas cenas despropositadas, o concenso encontrou-se.
Então...
Vi a casa encher-se de sorrisos escancarados ansiosos da festa e prontos para os preliminares: o jantar.
Não sendo a ementa digna de comentário, para meu alívio a ninguém pareceu importante, comparada com a expectativa de tão raro e inesperado programa.
Além da sopa semanal, cozinho para as crianças e quando me atrevo confecionar algo mais elaborado o meu nome é "Ratatui".
A quantidade de garrafas que invadiram a cozinha era prova da intenção clara de perder o juízo.
Com juízo, outra rolha estalou...
Garrafas vazias num canto, outras tantas com rolha. Ainda...
Da sala vinha o som de conversas cruzadas e risos espontâneos, honestos, de quem não procura aprovação.
Pessoas que não se conhecem e que aparentemente em comum têm eu.
Diria que se conhecem desde sempre. Fantástico!
Há na vida um equilíbrio imprevísivel. Lindo.
Quando é a próxima festa?

Eu vou