Meu caro Amigo, estás perdoado!

Espero, também, que me perdoes a tentativa, frustada, de invasão que há uns tempos fiz.
Agora que revejo com prazer a palavra amigo acabada de escrever, sei não me ser vulgar a sua utilização, no entanto, sentida desde que te li.
Lembro, com algum receio de ser mal entendido, a empatia e a identificação que sempre existiu com o que escreves e a dificuldade sentida em te comentar provocada pelo efeito que as tuas palavras sempre criaram cá dentro.
Neste mundo paralelo que em nada difere do real, com a exepção da simplicidade com que afastas quem vem sem vir, há poucas personagens que considero.
Lembro escrever há pouco tempo o quanto gosto de festas, sem datas marcadas, e áqueles com quem normalmente estou, me apetecia juntar uns quantos com quem há muito me apetece também privar.
Estás formalmente convidado para um jantar, que um dia acontecerá |conto contigo na organização|, onde a empatia e o respeito serão a condicção única de admissão.
Também a ti peço desculpa e admito a falta que me fazem os comentários que por ali ias deixando.
É real a importância que alguns, poucos, pouco a pouco, foram conquistando um espaço improvável neste mundo onde os alicerces são só as palavras.
Ainda que faça questão de afirmar que eu não sou o que escrevo mas o que faço, sei hoje que a discrepância é menor.
Compensam os poucos emails que como este recebo, cheios, não só de palavras.
Na vida, nesta, onde reconheces uma maturidade em que nada difere da que vejo em ti, com exepcção da vantagem que por vezes será desvantagem e identifico como simplesmente, tempo.
A diferença, tua vantagem, é só essa e ainda que o meu seja responsável pela tua"admiração" que em nada difere da minha e razão da evidente empatia.
Grandes são os que se atrevem viver momentos ímpares de felicidade, onde a alternativa é única e de uma proporcional infelicidade e sofrimento.
Nessa, que enquanto passamos acreditamos infinita, crescemos e no tempo que as horas não contam te encontrarás inesperadamente nesse atrevimento.
Disto, Grande Amigo, garanto a veracidade e o tempo trago como garantia.

É com um enorme prazer que recebo estas tuas palavras e me perco nas com que te respondo.
Escreve.
O porto seguro que procuras e precisas está perto. Tão perto!
Dentro de Ti.




Sem espelho para me enganar, pois o que parece quase nunca é, e há muito padece o interesse das sentenças daqueles que com facilidade o identificam.
É do que sou e ainda não passou, que aqui procuro.
Fácil decifrar nas palavras que em momentos escorrem espontâneas e a que o tempo se responsabilizou por atribuír um significado.
Não é esse que quero.
É da improvável síntese, do que o tempo me fez e o agora me diz ser impossível.


É nos que me enchem a alma de espaço para o tempo destes dias, que agora me encontro.






Os desencontros preenchem a maior parte dos fotogramas onde os personagens se obrigam a responder mecânica e com total ausência de espôntaneadade nas situações em que a dúvida se atreve instalar. Respostas coerentes, reflexo de raciocínios lógicos que se enquadram neste mundo onde vivemos e são supostamente eficazes. As opções são evidentes, esclarecidas. A procura da estabilidade e da segurança que esperam eterna, indica a direcção e o bom senso confirma as escolhas.

Nos breves momentos em que os fotogramas são comuns aos personagens, invadidos por uma vontade responsável por actos e frases pronúnciadas sem que antes a análise habitual censure o conteúdo irresponsável que á posteriori, ainda que o sorriso comovido atrapalhe os argumentos que por segundos quase escorregam no brilho húmido do olhar, lhes parece descabido e desajustado do que á tanto, inteligentemente, foi planeado.
O tempo, aliado da vida, estragou-lhes os planos premeditados, seguros, á tanto definidos.
É nesse caos inegável, confirmado pela inexistência da capacidade de novos planos elaborar, que emerge, dessa realidade inesperada, aquela vontade.
Então, a sorrir, naquele brilho se afogaram. Finalmente.

A dôr que a impossibilidade de te tocar provoca, há muito não sinto.
Voltará concerteza no segundo em que o meu olhar te tocar.
Maior será a provocada pelas palavras trocadas, que inteligentes, racionalmente apropriadas, nesse momento em que as sei desnecessárias, nos empurram para um futuro indesejado.
Estas em que me afogo podiamos evitar.




Há já alguns anos que o sorriso feliz, quase infantil, que só nesta altura revejo na Maria quando agarra e aperta os meus filhos como todas as crianças que graças a estas que agora aperta e, durante todo o ano, é responsável pelos sorrisos nos dias em que os nossos deles se esquecem.

Mas é o primeiro, brilhante quase a escorrer, que o saco do Simão, arrastadado orgulhosamente pelos pequenos braços que recusavam a ajuda oferecida para transportar o seu primeiro presente para quem nada tinha naquele Natal, lhe provocou o que nunca esquecerei.
Nem a Maria!
Quando agora levanta os braços para lhe chegar ao abraço, também ela lembra o primeiro saco com o mesmo brilho no olhar.
É entre frases que revelam o espanto que um ano que passou provoca, o tamanho do pé, o saco cheio mas que agora não arrasta e as conversas a que já não tenho acesso, que as imagens voltam e me transportam ao dia que agora me faz estar aqui.
Foi há tanto tempo.
Não tanto como o calendário pode traduzir as transformações que por vezes cá dentro se fazem.

Dos Natais sobrava lixo.
Era essa a sensação que da época ficava.
Melhor, sabia ser Natal também pelo volume impressionante de lixo.
Que raio de hábitos eu alimentava!
Pior, era perceber que afinal não eram eles que precisavam de tantos embrulhos.
Era eu e todos os que com eles se queriam fingir presentes.
Na presença inequívoca de tanta coisa que sobra, decidimos de comum acordo, dar a quem nesta altura também não recebe.
Lembro entregar um saco a cada que em minutos se encheu para quem nada tinha para brincar.
Do conteúdo dos sacos nunca soube, até hoje.
Aos anos que os aqui vimos trazer e o sorriso da Maria absorver.
O meu hoje vem diferente, para sempre.
A Maria sabe que foram as suas palavras a razão:
- "O saco do Simão, já é tradição, vem cheio do que gosta.
Por vezes ainda a caixa por abrir, não o que lhe sobra, sem valor."
Simples, segundo o Simão:
- "Porque eles não têm nada para brincar."
Altruísmo! Reconheço cheio de orgulho.












Por vezes leio o que escrevi e não me reconheço. Não porque não gosto, mas porque me interrogo quem escreveu. E afinal fui eu. Mas ontem quem era eu?
Queria acompanhar com o bater do teclado os pensamentos que já passaram. Eram esses que aqui queria deixar, sem me preocupar com a gramática ou figuras de estilo, e isto, já não faz parte do que passou e aqui não consigo deixar. Justifico a incapacidade evidente de fixar nestas palavras o que agora faz sentido e amanhã, provávelmente também sem me reconhecer, ajudaria a crescer.




Inveja de quem tem a clareza de espírito e a Paz necessária para em palavras se traduzir.
As minhas fogem. Não só as palavras, frases inteiras, que ao passar me iluminam e na impossibilidade de as agarrar o tempo que preciso para as gravar, sobrepostas por outras que também já se tornaram invísiveis ainda que sentidas e por momentos responsáveis pela caprichosa e efémera paz que nestes tempos é a minha.
Queria, por vezes, parar o tempo e então perceber-me. Por momentos... a incompreensão, ou essa ilusão, que por vezes, quase sempre, permite que estas que não passaram me cheguem amanhã. E devagar, aparentemente, nestas vou crescendo.




No intervalo, provocado pelo acender de um cigarro e no filtro desagradável, de repente ensopado, reconheci as minhas, ainda que não as que queria aqui deixar.