Bato-te á porta. Para aumentar a tua surpresa, não ouço nem te deixo contar histórias intermináveis que servem para nos afastar, os nervos desnecessários, de onde jorram incessantes ignoro descaradamente e convido-te para dançar.
Nem jantar, só mesmo dançar.
Quero-te por perto, não em centenas de palavras lindas, de histórias tristes, por vezes feias, de gente bonita onde esbarra a empatia e a compaixão inevitável em quantidades superiores ás tuas melhores expectativas.

Na certeza do enredo estar traçado, como se a ideia fosse tão mais estimulante do que a eventual realidade, adia-se á exaustão.
O que eu quero é dançar contigo!

o teu amor


E se voltasse agora? Como sei que gostas ainda. 

Devagar e sem tempo nem fronteiras que escondam o que óbviamente quero.
Como tu queres, como sempre fiz, mesmo não sabendo o que queres. Queria eu, com tanta força que pensaste não ter fim.
Tinhas razão. Cá dentro estarás para sempre. 
Não tinhas razão. Tem fim. 
Começos inimagináveis, até contigo que confundes medo com desilusão. 
Escolhas de que a vida é feita.
Silêncio da ausência presente, quase sempre a lembrar qualquer coisa. Nem sempre outro dia é.
E se voltasse agora? Como sei que gostas ainda.

Fugirias como o diabo da cruz. De sorriso satisfeito por outro obstáculo conquistado sem desespero. Como o teu amor.

vinte e dois




Sempre me entristeceu a ideia de que alguém se esqueceu de mim. 

Pior ainda, constactar que já não lembro alguém.



O som nem é agressivo, muito pelo contrário, quase doce.

Foi o suficiente para me roubar o prazer de deambular sem intenção e acabar baralhado e confrontado com a rapidez e variedade infinita de assuntos que os meus pensamentos conseguem abranger neste estado. 
Irrita-me e admito a crescente desilusão com o aproximar do fim de tal ilusão. Aterrar aqui vindo de onde consigo, realmente, sentir e viver liberdade.
Sem dramas evidentes graças á espantosa capacidade de adaptação adquirida ao longo de anos.
Da televisão, para a qual ainda não olhei, ouço uma luta no futuro, pistolas lasers, sons que cortam o espaço, estridentes, em cenários imaculados de alta tecnologia, uniformes armani brancos e entra por ali a minha sobrinha favorita que sorri também com os olhos  e traz uma saia comprida cheia de flores que deixam rastro.
Dez minutos de conversa parecem explodir, cheios, de emoção e da sensação de recuar tanto que amanhã é dia de exame.
Muda o cenário, há um relvado grande, a cheirar a regado  a precisar de ser cortado e uma resposta:
Aos quinze anos sabia exactamente como gostaria de ser aos vinte e dois. Claro que nessa altura não fazia ideia do que era ou que estava no meio de uma revolução, muito bonita sem dúvida, mas que veio alterar todas as minhas ingénuas expectativas.
O sorriso é reflexo do prazer de aqui estar e imaginar fazer a mochila para ir para Erasmus.
O brilho triste que descobriu no olhar, é de alegria por já ter vinte e dois, ainda que só agora.


reflexo


Podia não ver ou sentir e querer parecer que tudo é tão complicado e difícil. Como sempre, o tempo é o meu maior aliado e o que ontem me parecia intransponível é hoje motivo de um sorriso discreto mas associado a um brilho que renasceu. Não foi o meu brilho que ofuscou o ontem baço e iluminou estes dias brilhantes. Nem nos breves momentos que olho o espelho o pressenti, ainda que sem consciência, há tempos que gosto do reflexo. 
Mais do que vejo no meu espelho, no brilho do olhar e nas palavras de quem, de uma ou outra maneira, me acompanha nos últimos tempos. Obrigado aos que aqui vêem e sabem fazer parte do meu crescimento, das tristezas evidentes, das alegrias discretas, dos esclarecimentos e da empatia tão bonita. Obrigado aos que não sonham que o zm existe e da mesma maneira fazem do brilho do meu olhar realidade. Brilhante é como me sinto, não pelo laranja da pele, do sol, mas daquele que se vê transbordar do meu coração. Parecerá rídicula a expressão, como as cartas de amor, no entanto, sorrio, porque real. Olho e constacto o arrastar e hoje vejo o passar.
O motivo do meu sofrimento de ontem é responsável pelo orgulho de ser hoje, cheio de defeitos conscientes e de qualidades acrescidas.
A vida é fantástica. Mesmo. As "derrotas" de ontem são as vitórias que possibilitam o brilho que agora vejo por aí e aqui.


pois


Pois. És ainda tu. 
Curiosamente não lembro como é a tua cara. Mesmo.
Estranho seres ainda a única personagem de que sinto falta.
Hoje estou especialmente sensível.
Talvez porque aparentemente está tudo bem. Mas não estás.
Sem dramas. Lembrei de ti. Arrepiei-me!
Senti a falta que me fazes quando parece já não fazeres.
No arrepio liquído que escorre, doce, atreve-se a tua imagem, não a física, que quase não lembro, mas outra se impregnou e parece não ir nunca. Ficou para me encher de tristeza quando parece possivel ser feliz.
Vens arrogante, impedir que alguém entre quando não te lembro e apesar não saber quem és e certamente não saberes quem sou.
Não entendo. Se ainda aqui estás, como é possivel não estar aí?
Não interessa. Espero que esteja tudo bem contigo.
Danças comigo? Outro dia...