Sempre me entristeceu a ideia de que alguém se esqueceu de mim.
Pior ainda, constactar que já não lembro alguém.
O som nem é agressivo, muito pelo contrário, quase doce.
Foi o suficiente para me roubar o prazer de deambular sem intenção e acabar baralhado e confrontado com a rapidez e variedade infinita de assuntos que os meus pensamentos conseguem abranger neste estado.
Irrita-me e admito a crescente desilusão com o aproximar do fim de tal ilusão. Aterrar aqui vindo de onde consigo, realmente, sentir e viver liberdade.
Sem dramas evidentes graças á espantosa capacidade de adaptação adquirida ao longo de anos.
Da televisão, para a qual ainda não olhei, ouço uma luta no futuro, pistolas lasers, sons que cortam o espaço, estridentes, em cenários imaculados de alta tecnologia, uniformes armani brancos e entra por ali a minha sobrinha favorita que sorri também com os olhos e traz uma saia comprida cheia de flores que deixam rastro.
Dez minutos de conversa parecem explodir, cheios, de emoção e da sensação de recuar tanto que amanhã é dia de exame.
Muda o cenário, há um relvado grande, a cheirar a regado a precisar de ser cortado e uma resposta:
Aos quinze anos sabia exactamente como gostaria de ser aos vinte e dois. Claro que nessa altura não fazia ideia do que era ou que estava no meio de uma revolução, muito bonita sem dúvida, mas que veio alterar todas as minhas ingénuas expectativas.
O sorriso é reflexo do prazer de aqui estar e imaginar fazer a mochila para ir para Erasmus.
O brilho triste que descobriu no olhar, é de alegria por já ter vinte e dois, ainda que só agora.