Há tanto me afasto de Ti que outro sorriso teve tempo para entrar em mim. Quando olho para trás e me perco nas histórias que sou, o sorriso mistura-se salgado, umas vezes doce outras amargo. Não só desta que aqui escancarei me lembro agora, nossa, da minha que nesta paz triste, inerente, branqueia o cabelo.
Andam por aí anjos que olham por mim. Não é erro ortográfico, Anjos. Um só não chega para me amparar as infinitas quedas e orientar tamanha desorientação.
Só espero que aos blogues não tenham acesso e a minha consciência não os liberte da obrigação. Não me deixem só que os tropeções eminentes serão fatais e o sorriso é tipico dos inconscientes, loucos. Da loucura das minhas escolhas, em tempos para todos evidente, tenho o maior orgulho e o sofrimento correspondente.
O tempo tão escasso nesta vida por vezes parece derrapar e da vontade escapar mas afinal consigo agarrar. Seja lá o que for, é bom sentir. Só.




Não recordo o tempo em que começaste dentro de mim.
Ainda que não tenha desaparecido, porque mesmo que me obrigue, a recusa é evidente e a negação escandalosa.
Vejo-me em todos os olhares de espanto e nos gestos subtis que me ensinaste e fazem hoje parte de mim.
È real aquela história de que as pessoas passam por nós por uma razão. A importância dessa passagem é proporcional á dedicação e o tempo que lhes damos.
O tempo que não tiveste para mim.
Dividido com as tintas que não escorrem porque abandonadas no chão a secar, debaixo do olhar aqui a vaguear por palavras que as côres não permitem decifrar, mas outro eu descobrir.
Novo. Sempre o mesmo e nunca.
É o branco que vou ali espalhar.
Um anjo procuro, real, sem traços previsíveis.
Presente.



Nada me é familiar, exepto aquele corpo e este objecto que me persegue que há muito me roubou o prazer do roçar do aparo no papel. Neste ambiente, aquele corpo, e este mundo já meu e de ninguém. O frio é suposto obrigar-me fechar as janelas que abri para que o reflexo não me roubasse o ar das vistas. Mas és Tu, sem corpo, que me traz aqui. Aqui ao meu lado, a puxar o edredon branco a empurrar o frio que não sinto entrar pela ausência de reflexos e instiga a vontade de conciliar o pensamento com estes quadrados que se fazem chamar de teclado. E nós aqui.


Eu detesto o Natal.
Entristece-me as entranhas. Sou um estranho.

Aquela história de celebrar o nascimento e ainda que seja o meu, longe das palhas e do bafo quente da vaca e do burro, nunca me agradou.
Sempre foi assim e não agora que os cinquenta se vislumbram no horizonte. Muito pelo contrário.
Irrita-me, complica o sistema nervoso sentir-se na obrigação de festejar. Não que tenha algo contra festejos, gosto, desde que a data não seja uma permissa incontornável.
Hoje festejava. Qualquer coisa!
Juntava uns quantos personagens conhecidos e apimentava o hambiente com quem há já uns tempos me apetece também privar.
Dançava, sem interromper há meia noite para rezar.

Perdoem o tom irónico os que rezam não só com o galo mas todos os dias. Por esses tenho o maior respeito e adivinho pouca divergência da minha opinião sobre o Natal que por aí se festeja.
Porque é suposto ser todos os dias.
Natal é quando o Homem quer!
Pobres homens que o festejam e praticam só em data certa e debaixo do olhar da competição.
Puta da hipocrisía...
Quantos eventos vejo por aí com o intuito de resolver os dramas de pobres crianças abandonadas á sua sorte a distâncias imensas, organizados por personagens que por aqui se afastam, para evitar o cheiro e a ausência de beleza, da pobreza vizinha. Próxima demais, incomodativa.
Merda de mundo que criámos, onde o que parece é sempre mais importante do que ser. Fazer.

Afinal é para as crianças. Dizem por aí!
Quando a consciência nos empurra na procura urgente de justificação para o injustificável.
Afinal elas são aquilo que nós deixamos e por isso andamos rodeados de pequenos ditadores. Monstrinhos munidos de uma inteligência manipuladora que a falta de tempo, ou vontade para os acompanhar, serve de desculpa para verdadeiras atrocidades que com um encolher de ombros dizemos normais e diáriamente convivemos.
Por isso o Natal é a altura das desculpas. Do perdão.
Para isso recorre-se a todos os meios existentes e outros, para satisfazer ás claras, orgulhosamente, os caprichos das crianças pequenas ou grandes, para quem o tempo não existiu.

E durante dois dias a felicidade é comprada e embrulhada em papel colorido e laços berrantes.
Que bom!
Estão as ruas iluminadas tão bonitas.
Queixam-se os que nelas dormem estas noites frias e compridas:
- Luz a mais e calor a menos.

Bom Natal |todos os dias|