Nunca percebi porquê mas desde muito cedo entrou em mim e dizia claramente o que em Português parecia impossível.
Como se uma palavra significasse palavras e a simples variação da entoação decifrasse emoções desconhecidas de Camões.
A constante divagação e repetição exaustiva na procura da construção ideal daquelas frases que aqui dentro ocupavam infinitas páginas de memórias nunca partilhadas e cuidadosamente sussurradas garantindo a aparente e imprescindível sanidade mental que de contrário traria sérias repercussões e vergonhas insustentáveis.
Do alto do meu mundo observava os pobres infelizes que se afundavam em dificuldades crescentes e assustadoras para pôr em prática a mais básica forma de comunicação com resultados coerentes e de significativo entendimento.
Não era o egoísmo que me impedia de revelar o meu segredo mas a absoluta certeza da incapacidade óbvia de entenderem tal linguagem e de tal revelação ser potencial responsável por um acréscimo substancial do ambiente caótico já evidente.
Com uma tristeza conformada de consciência tranquila e nos ombros o peso da enorme perca que significava a minha decisão de definitivamente ocultar o segredo da resolução da incapacidade de comunicação entre os meus pares que prosseguiam na paz que só a ignorância permite sentir, guardei para sempre, cá dentro, tamanho tesouro.
Lembro nitídamente as sensações de desconforto e revolta pelo desperdício de infindáveis horas dedicadas naquelas salas austéras e frias á aprendizagem desta lingua Portuguesa e consequente e inevitável empobrecimento da minha.
Walk...
Presumo que foi nesse período que se instalou em mim uma tristeza que ainda hoje persiste.
Os anos obrigaram-me a ceder á invasão pelo racicionar quase constante na língua Portuguesa.
Walk...
Walk... Walk...
Porém, ainda hoje e por motivos que desconheço e sempre me surpreende volta o que nunca de cá saiu.
Walk...
Walk... Walk...
Olhava para o mapa quando surgiu...
Inevitávelmente, também aquela tristeza me invadiu.
Walk... Walk alone...
|levo-te comigo|cá dentro|sempre|
22 comentários:
Ou se gosta, ou se odeia, mas nunca se destrói uma língua, uma identidade cultural, por decreto!
E isso é um facto! Não um fato...
beijinhos andantes
Gosto de ler-te.
A nossa língua é o nosso maior tesouro social...
Boa viagem again... walk in the land of th king and sing for me...Hakuna Matata ou então... Batata, as you wish..lol
Beijinho e um coffe cream
Parabéns, amigo. Eis um texto que bem honra o idioma que defende!
"As I walk alone I wonder..."
Onde andas? A esta hora? Já as sombras morenas te encantaram, e as cores do por do sol se tatuaram em ti? Gravaste na memória a essência dessa terra? O aroma do café que parece colorir um dia?
Pergunto-me se dormes. Se apetece não dormir e viver intensamente os dias mágicos duma terra quente que vibra e nos incendeia a alma.
Essa África que tem bater de coração. Esse teu coração que parece ter imenso espaço de sonhos, sorrisos e descobertas.
A tristeza dissipou-se? Sorri ternamente, sorrindo aos outros como se te oferecesses um abraço e respira, respira esse ar que parece dizer que a vida é tão grande que às vezes não lhe achamos tamanho.
Beijo no vento...ou na monção :)
só não
se a tristeza é uma companhia...
Zé,
Walk forever... e nunca o deixes de fazer na perseguição daquilo em que acreditas.
Abraço.
Olá...
Esperava-te hoje. Espero que estejas bem e que a viagem tenha sido boa.
Beijo de boa noite :)
ainda aqui...
Então sejas bem regressado!
Abraço
Talvez porque o mais puro de nós reside na infância e na língua que, nessa altura usávamos.
:)
Maria Mercedes,
Estou completamente de acordo contigo.
É um facto. Sempre será.
Tenho dito.
Beijinhos parados (sentados)
Café com Natas,
Vindo de quem escreve e descreve com uma lúcidez poética emoções de uma beleza invulgar e sentida como Tu, fico efervescente de orgulho e alegria que gostes.
Um tesouro aí dentro!!
Por isso eu canto Hakuna "Batata"... :) :)
Beijinhos
Árabe,
Obrigado pelas tuas palavras.
Português é lindo!!
( E traiçoeiro. Dizem...)
Gosto de te ver aqui.
Grande abraço
Amigo
Ki,
...
Fico comovido, sem palavras...
Leio-te uma e outra vez... outra vez...
Bom que não me senti sózinho. Só.
Cá dentro... sempre.
E naqueles momentos te abracei.
...
Beijo
Ivone,
E por vezes uma alegria...
Art,
E eu acredito!
Grande abraço
Ki,
É bom saber que nos esperam...
Obrigado.
Beijo de boa noite
Beijo de bom dia
beijo
Blue Eyes,
Obrigado, muito obrigado.
Abraço
Ego,
Essa é a única e verdadeira pureza!
Em todas as linguas...
:) x n
Anónimo,
E eu ainda aqui... Também!
Sê bem vindo/a
:)
afinal onde estamos e por onde queremos ir?
Inbluesy,
Pergunta complicada...
Hoje?
:)
Enviar um comentário