Há já alguns anos que o sorriso feliz, quase infantil, que só nesta altura revejo na Maria quando agarra e aperta os meus filhos como todas as crianças que graças a estas que agora aperta e, durante todo o ano, é responsável pelos sorrisos nos dias em que os nossos deles se esquecem.

Mas é o primeiro, brilhante quase a escorrer, que o saco do Simão, arrastadado orgulhosamente pelos pequenos braços que recusavam a ajuda oferecida para transportar o seu primeiro presente para quem nada tinha naquele Natal, lhe provocou o que nunca esquecerei.
Nem a Maria!
Quando agora levanta os braços para lhe chegar ao abraço, também ela lembra o primeiro saco com o mesmo brilho no olhar.
É entre frases que revelam o espanto que um ano que passou provoca, o tamanho do pé, o saco cheio mas que agora não arrasta e as conversas a que já não tenho acesso, que as imagens voltam e me transportam ao dia que agora me faz estar aqui.
Foi há tanto tempo.
Não tanto como o calendário pode traduzir as transformações que por vezes cá dentro se fazem.

Dos Natais sobrava lixo.
Era essa a sensação que da época ficava.
Melhor, sabia ser Natal também pelo volume impressionante de lixo.
Que raio de hábitos eu alimentava!
Pior, era perceber que afinal não eram eles que precisavam de tantos embrulhos.
Era eu e todos os que com eles se queriam fingir presentes.
Na presença inequívoca de tanta coisa que sobra, decidimos de comum acordo, dar a quem nesta altura também não recebe.
Lembro entregar um saco a cada que em minutos se encheu para quem nada tinha para brincar.
Do conteúdo dos sacos nunca soube, até hoje.
Aos anos que os aqui vimos trazer e o sorriso da Maria absorver.
O meu hoje vem diferente, para sempre.
A Maria sabe que foram as suas palavras a razão:
- "O saco do Simão, já é tradição, vem cheio do que gosta.
Por vezes ainda a caixa por abrir, não o que lhe sobra, sem valor."
Simples, segundo o Simão:
- "Porque eles não têm nada para brincar."
Altruísmo! Reconheço cheio de orgulho.

1 comentário:

Carla disse...

sabe Simão que o Natal mais do que presentes precisa que o seu espírito não morra. E Maria está lá para lho lembrar
beijos
*bom estarem aqui os comentários outravez