just take five


A porta do elevador ainda não se tinha fechado quando o braço instintivamente reagiu, nem a mão percebeu, iluminada pelos tímidos e derradeiros reflexos que tinham origem no candeeiro que ali deixei e tantas vezes testemunhou beijos apaixonados que não conseguiam esperar chaves perdidas e a ausência de vontade para as encontrar fosse inversa das noites que de chaves na mão, ainda não se abrira esta, como outra de alívio se abrisse e por lá passasse e se perdesse a sensação que agora entrava, sem porta ou chave que me protegesse de tal invasão opaca que desencadiava a reacção que a mão ainda hoje não acompanhava e tentava, desesperadamente, evitar que mais um bater de porta soasse.

Aquele som ensurdecedor que me impedia de pensar, descia comigo os nove andares, perseguia, sentava-se ao meu lado, cínico, de sorriso satisfeito com um brilho jocoso no olhar, exigia acompanhar-me no longo percurso que não recordo sequer começar e ao chegar finalmente, deitava-se ao meu lado, sorrindo, enquanto se aconchegava na almofada vazia de ti.

Mais tarde, tarde demais porque o tempo têm tempos que não são o meu ou o teu, percebi que aquele som não era produzido pelo choque metálico mecânico que anunciava mais um encerrar  e que insistia ressoar não só dentro de mim mas também em ti.

Iniciava-se quase silencioso, um sussurro trauteado de esperança. 

No desapontamento da confirmação de ainda se manter a incapacidade de comunicação, que há tanto se instalara e ainda hoje o surpreendia por lhe desconhecer o motivo e desiludido pelas tentativas frustradas de alterar esta triste condição que inequívocamente anúnciava o final que, em vão, tentara evitar esgotando todas as alternativas de solução, em desespero, cantava: 



Want you stop and take a little time out with me
Just take five
Stop your busy day and take the time out to see 
 I'm alive


O que a nós chegava filtrado pela insegurança cega surda e ignorante que o medo alimenta, soava incompreensível, ensurdecedor.

6 comentários:

Vício disse...

e às vezes "five to one"

(não é meu! Tabacaria de Fernando Pessoa)

pzs disse...

Vício,

"Aquele homem é um génio. "

Abraço




ps: "five to one" é título de filme XXX ? : )

MARIA MERCEDES disse...

Se calhar é por isso que inventaram a música ambiente para elevadores...sempre aconchega a solidão.

beijinho

Anónimo disse...

Não me é apetecível comentar este texto mas...e como...eu digo.

Acredito nas memórias dos sons e dos cheiros, das cores que nos transportam a um conforto passado. Acredito que é bom termos recordações que nos fazem sorrir se não vivermos delas e para elas sabendo que as coisas mudam e as pessoas também estão em constante movimento logo diferentes.

Eu não sei se é maturidade ou crescimento, entendo antes que são escolhas que se vão fazendo de como estar na vida connosco e com os outros.

Concordo quando falas de comunicação é de facto a base essencial de qualquer relação, por isso mesmo e honestamente penso que este tipo de comentário é mesmo sintético e dava para horas de conersa, de diálogo, de saber ouvir.

A discussão da existência não tem fim, é mais partilha de pontos de vista do que outra coisa.

O medo é limitativo de viver. E a falta de tempo inimiga de pensar e de saber existir.

Desculpa-me um comentário quase só por tópicos. O texto é de top, é o q eu penso.

Umas palavras...deixei:)

Abraço e beijos oh ternurinha (lol)

pzs disse...

Maria Mercedes,

Será?
Então porque é sempre tão má?

Beijo : )

pzs disse...

Ki,

Ainda que não te apeteça surpreende a lucidez da tua análise...


Beijo
gosto muito de Ti|Ki