silêncio


Meia hora ao telefone, o que não acontecia há muito. 
Senti-me transportado para tempos que apesar me parecem tão distantes são ainda os teus, como se o tempo não tivesse passado. 
A procura persistente e desesperada da felicidade, baseada em pormenores tão vagos e inconsistentes que, ainda assim, são indícios óbvios de uma felicidade prometida, breve. 
Apesar do esforço para contrariar o peso que se ia instalando em mim com o passar dos minutos, das tentativas frustradas de remeter a conversa para outras direcções, nada mais existe.
O silêncio instalou-se em mim.
Outra chamada proporcionou a fuga deste espaço. Egoista talvez? Triste.



férias


Água fresca que lava o castanho dos dias 
Laranja que ilumina e enche a alma
Entre o azul e branco se faz encarnado
Se enche no roxo e perde no luar
Vento morno que aquece a pele 

o vento e o tempo


O vento e o tempo
que com a mesma lentidão 
moldam a natureza e o espírito. 
Não há nada como o tempo.

Neste tempo, olho o de ontem aqui, e, cá dentro, 
surpreende a distância a contrastar com o tempo. 

Não me parecem as horas eficazes para contabilizar o passar ou o arrastar deste, mas em contrapartida, encontro nestas "páginas" que, pela primeira vez, deixaram de ser só minhas, visíveis, então, também para mim e reflexo evidente do longo e conturbado arrastar que em horas, ou outra qualquer medida, ultrapassaria sobejamente a realidade. 
Insisto registar até nada doloroso haver para sentir, por fim.

Não é novidade, é assim que me processo, sempre foi, se importante e grande de nada me servem os raciocínios esclarecidos ou o senso do comum contra o inevitável  arrastar do tempo.

Vento morno, fresco que me empurra para o sol, agora sem peso, flutuo sem destino, revejo côres, cheiros e o som quase esquecido duma gargalhada enche-me o peito estes dias. A minha.

Agora quero ir, comigo. 
Olho para trás e desfilam infinitas imagens de gente, sensações, palavras, cenários de viagens só possiveis porque sózinho e partilhadas com ilustres estranhos que me encheram a alma em praias iluminadas por estrelas que não sabia os nomes, em casas de lata onde a comida eram sorrisos e histórias que sossegavam o medo, em ruas sem fim, em nomes que aqui retornam, em cidades, imagens, momentos... Liçôes inesperadas dos mundos, meus.

Estar sózinho é um hábito díficil de alterar e nestes momentos que passam não vislumbro desvantagens dessa condição que no tempo me encontrei. 
Não me imagino dividir o espaço fisíco ou partilhar rotinas invasivas em nome do amor. 
Não passa por aí o que estou disposto a partilhar. O Amor? sim. 

Egoista? Não quero saber.
Sexo? O melhor é contigo. 

Neste passar, passou-me pela cabeça trespassar o zm
Não. Pelo contrário, comprometo-me a registar, pela primeira vez, o passar.

ainda que só



a ausência nos dias 

de tantos, se fizeram meses
não me entristece agora 
fazes-me falta
compensas aqui

gosto de te sentir perto 
pressentir as razias constantes 

das palavras, de tantas
por vezes rasteiras, outras qual cometas 
me ameaçam o equílibrio
enquanto outras, envolventes 
amparam e sossegam a esperança
a que o nada já não desespera
tantas outras se misturam

sábias, sem chão, flutuam

videntes sem nome

expressões de alívio
observam as minhas
sem ver, ouvem-se
sorrisos sacanas
de gente bacana
de coragem ébria
da transparência
evidente



sabes que sou



é genuína a alegria
quando há procura de mim
com frequência
me encontrar em ti 
estas são minhas
transparentes
 não fazem parte de um plano maior
na expectativa de uma vitória
num jogo que não quero competir
quero viver
ser
ainda que só
nunca






de|s|encontros


Mais um dia que findou.

É, esperando que os seus súbditos não lhe tenham provocado grandes incómodos e problemas, que os seus Pares se tenham comportado á altura e que as aflições da bolsa não tenha repercussões drámaticas nos seus domínios, humildemente e com o respeito devido que lhe envio estas palavras.

Foi com saudades de ouvir essa voz, em que reconheço nos breves contactos estabelecidos nos ultimos tempos, mas que ainda assim de uma importância singular para este seu amigo, uma alegria e uma energia tão bonita e contagiante condizente com a sua pessoa e que por nenhum motivo a deveria abandonar, que peguei mais uma vez no telefone para a contactar e logo constatei não serem já horas decentes de tal atrevimento.

Esperando que quem indecentemente controla a informação que por aí chega não tenha acesso a estas palavras e que as próximas não lhe causem agruras, aí vão:

Lembro ter episódios de uma novela para te contar, que entretanto perderam importância devido a outros que provávelmente já não lembro também.

Enfim...