A porta do elevador ainda não se tinha fechado quando o braço instintivamente reagiu, nem a mão percebeu, iluminada pelos tímidos e derradeiros reflexos que tinham origem no candeeiro que ali deixei e tantas vezes testemunhou beijos apaixonados que não conseguiam esperar chaves perdidas e a ausência de vontade para as encontrar fosse inversa das noites que de chaves na mão, ainda não se abrira esta, como outra de alívio se abrisse e por lá passasse e se perdesse a sensação que agora entrava, sem porta ou chave que me protegesse de tal invasão opaca que desencadiava a reacção que a mão ainda hoje não acompanhava e tentava, desesperadamente, evitar que mais um bater de porta soasse.
Aquele som ensurdecedor que me impedia de pensar, descia comigo os nove andares, perseguia, sentava-se ao meu lado, cínico, de sorriso satisfeito com um brilho jocoso no olhar, exigia acompanhar-me no longo percurso que não recordo sequer começar e ao chegar finalmente, deitava-se ao meu lado, sorrindo, enquanto se aconchegava na almofada vazia de ti.
Mais tarde, tarde demais porque o tempo têm tempos que não são o meu ou o teu, percebi que aquele som não era produzido pelo choque metálico mecânico que anunciava mais um encerrar e que insistia ressoar não só dentro de mim mas também em ti.
Iniciava-se quase silencioso, um sussurro trauteado de esperança.
No desapontamento da confirmação de ainda se manter a incapacidade de comunicação, que há tanto se instalara e ainda hoje o surpreendia por lhe desconhecer o motivo e desiludido pelas tentativas frustradas de alterar esta triste condição que inequívocamente anúnciava o final que, em vão, tentara evitar esgotando todas as alternativas de solução, em desespero, cantava:
Want you stop and take a little time out with me
Just take five
Stop your busy day and take the time out to see
I'm alive
O que a nós chegava filtrado pela insegurança cega surda e ignorante que o medo alimenta, soava incompreensível, ensurdecedor.